Imagine poder antecipar tendências e problemas de saúde que se manifestarão no futuro, como obesidade e diabetes. A ideia pode parecer retirada de um filme de ficção científica, mas sua aplicação já é uma realidade nos consultórios. Trata-se da genética do metabolismo, que se baseia em alterações na sequência do DNA – os SNPs (single nucleotide polymorphism) – para identificar se o individuo nasceu com tendência ao metabolismo lento, ao maior acúmulo de gordura, a fome excessiva ou a obesidade.
“Estamos apenas começando a compreender influência genética no metabolismo, mas sua aplicação na vida das pessoas está cada vez mais comum. Este vasto conhecimento já se encontra disponível para nos auxiliar a combater problemas tão comuns hoje, como diabetes, intolerância a lactose, doença celíaca”, comenta a endocrinologista Juliana Bicca, Membro da Endocrine Society e Fellow Researcher em Neuroendocrinologia pela Columbia University.
Tudo começa com a coleta de uma amostra de saliva para a realização de uma busca ativa pela presença dos SNPs. Com o relatório, que indica quando e como estes SNPs estão presentes no DNA daquele individuo, o médico avalia se houve ou não a presença da alteração genética e quais as implicações clínicas disso. “Já nascemos com esta informação genética, entretanto hábitos, como alimentação, prática de atividade física e tabagismo, entre outros, podem silenciar ou ativar SNPs. Do ponto de vista da dieta ou suplementação, este conhecimento nos permite, por exemplo, reduzir ou evitar risco de que uma determinada doença se manifeste”, comenta Juliana Bicca.
Plano individualizado
Segundo a endocrinologista, a aplicação da genética na dieta permite a individualização do tratamento. “A ideia é fugir da generalização, dos alimentos ‘amigos’ ou ‘inimigos’ do metabolismo, pois o que pode ser bom para um, pode ser ruim para outro”, comenta ela.
A vantagem disso? Encurtar o caminho entre a meta e o resultado, prevendo, através da análise do DNA, a proporção correta de macronutrientes (proteínas, carboidratos e lipídios), vitaminas e alguns minerais, para a dieta de cada indivíduo e permitindo a elaboração de um plano alimentar que efetivamente atingirá o objetivo final pretendido.
Mais: a análise também possibilita identificar qual é a relação ideal entre alimentação/atividade física/emagrecimento para cada pessoa. “Pela presença de algumas alterações genéticas, conseguimos identificar se o individuo tem muita ou pouca perda de peso com exercício. Isso não invalida os benefícios da atividade física para a saúde, mas permite que a pessoa ajuste suas expectativas e dedique-se mais a outra meta”, explica a especialista.
A endocrinologista lembra que a genética não é mais uma sentença definitiva: “hoje sabemos que é possível, por meio de tratamentos, dietas ou mudanças de hábito, ativar ou silenciar vias genéticas, modificando uma via metabólica, modulando e até evitando o risco de doenças. Para isso, é necessário nos anteciparmos e nos tornarmos ativos nos cuidados com nossa saúde”, finaliza Juliana Bicca.
Fonte: Dra Juliana Bicca